Uma criança introspectiva com um talento marcante tornou o desenho uma de suas atividades favoritas. Entre as brincadeiras comuns de garotos nascidos no interior do Maranhão e a rotina da escola, sempre havia ali algum rabisco que chamava a atenção de todos. Mas não se tratava de um simples hobby. Emanuel Felizardo, conforme crescia, tinha um interesse incomum por estudar desenho, buscando revistas e livros sobre o assunto, procurando treinar todos os dias, observando modelos tirados da internet, aprendendo anatomia, perspectiva, efeitos diversos de representação… Considerando que desenhar costuma partir da observação do mundo visível até atingir a criação de realidades imaginadas, é possível afirmar que é um ofício infinito. Assim o ilustrador o trata hoje - estudando sempre, tanto as técnicas quanto os assuntos que lhe interessam. Para manter-se em movimento criativo é necessário ser constante aprendiz. Desde a saída de seu ensino médio, Emanuel experimentou dezenas de técnicas e estilos. Bastante tempo foi empregado e, hoje, pode-se dizer que seu corpo de trabalho adquiriu uma marcante identidade.
Qual sua relação com o Japão? Parece um pouco deslocado que o menino nascido em Codó, criado em Sobradinho/DF, ponha hoje seu maior interesse artístico no país do outro lado do mundo. Há decerto um fenômeno na cultura brasileira entre jovens nascidos na década de 90, que é a popularização dos chamados “desenhos japoneses”, os animes. E Emanuel partiu daí, passou a adquirir também os quadrinhos - mangás -, nos quais observava muito aquilo que mais o interessava: aspectos do desenho. Os clássicos Naruto, Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball foram os catalisadores de tudo. Hoje adulto, percebeu que seu interesse pelo Japão vai muito além de uma moda adolescente. Há algo de muito profundo nas narrativas e na construção dos personagens daquele país: uma específica contemplação da beleza, da virtude e da verdade sobre a natureza humana; uma jornada heróica de superação e sacrifício que nos fala a todos, individualmente. E como quem não idealiza uma cultura e um povo, até as fragilidades percebidas do japonês em sua história parecem transmitir fortes ensinamentos. Cristão, Emanuel também se debruçou sobre a história do cristianismo no país - sobretudo por meio do autor Shusaku Endo - e descobriu outro abismo de interesses. Akira Kurosawa trouxe nova fonte de pesquisa, tanto cultural quanto imagética, consolidando no trabalho do ilustrador o uso poético do preto-e-branco e a criação de personagens e ambientações. A própria língua japonesa é fonte de inspiração, quando se descobre que a etimologia nos kanjis trazem, novamente, uma acurada e poética percepção dos aspectos da realidade…
A recente leitura de mangás se expandiu dos heróis mais populares no universo geek para autores mais antigos, influenciando Emanuel em suas habilidades representativas. Destaca-se aqui o traço cortante de Goseki Kojima em Lobo Solitário, bem como a com o uso combinado de pincel e bico-de-pena para explorar possibilidades do nanquim. O Kamen Rider de Shotaro Ishinomori contribuiu com a diversidade de texturas minuciosas e com a complexa composição em cenas carregadas de dinamismo. Hiroshi Hirata, por fim associa esses a ricos aspectos visuais o retrato dos costumes e da história de guerras no período feudal japonês.
